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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

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Vampira de Malia Nurmi

 Ela era alta e a pele branca, muito branca, que contrastava com o sombrio vestido preto e sensual. A cintura, finíssima, ressaltava o corpo perfeito de uma mulher que sabia usar o sexo a seu favor. Mas havia um problema: ela estava morta e, pior, também queria matar você.

Vampira, personagem criada em 1954 para apresentar um programa televisivo que exibia filmes de horror, tornou-se um marco da cultura pop americana e influenciou gerações, seja pela postura feminista – antes dos movimentos feministas dos anos 1960 e 1970 –, seja pelo visual gótico – antes dos góticos dos anos 1980.

Vampira

Vampira, como o próprio nome sugere, é imortal e permanecerá lembrada mesmo com o passar das décadas, mas a atriz Maila Nurmi (1922–2008), criadora da personagem, caiu no esquecimento e faleceu sem as glórias e o reconhecimento que merecia.

É justamente para reparar esse erro histórico que o jornalista e cineasta R.H. Greene realizou o documentário “Vampira and Me”, exibido no sábado (23/6) no Los Angeles Film Festival. “Vampira já é um ícone duradouro que não precisava da minha ajuda para ser lembrada, mas Maila foi notável e sua história é um épico de triufo e tragédia”, escreveu o diretor no site onde divulgou a produção. “Eu queria que a mulher fosse lembrada tanto quanto sua personagem.”

Maila Nurmi

Greene conheceu Maila em 1994, quando a entrevistou pela primeira vez para um trabalho sobre a história do cinema americano, e rapidamente os dois ficaram amigos. Ao longo dos anos, centenas de entrevistas renderam milhares de horas de material, porém a atriz faleceu em 2008, aos 85 anos, deixando no coração do jornalista um arrependimento quase irreparável. “Eu fiquei tão puto comigo porque nunca tive a coragem de arriscar nossa amizade e dizer: ‘Eu sei que você quer que sua história seja contada, então me deixe fazê-lo’”, confessou, durante entrevista coletiva.

A história que Greene queria contar era a da pequena finlandesa loira Maila Elizabeth Syrjäniemi, nascida em 11 de dezembro de 1922, que cresceu em Astoria, no estado americano do Oregan, e mudou-se posteriormente para Hollywood, em Los Angeles. Quando saiu da adolescência, trabalhou como dançarina, posou para fotos, arriscou-se no teatro e até conseguiu um papel no longa-metragem “Romance em Alto-Mar” (Romance on the High Seas, 1948).

Nos camarins de The Vampira Show
 

Sua vida mudou quando, em 1953, participou de uma festa à fantasia vestida como Morticia Addams. Um produtor televisivo que estava presente ficou encantado e por meses tentou descobrir o contato daquela mulher estonteante, apesar da aparência mórbida.

Nascia, então, o “The Vampira Show” (1954), um programa televisivo no qual Maila introduzia filmes de horror fantasiada como uma personagem meio bruxa, meio vampira, que despejava maldiçoes nos espectadores –, sim, como nos moldes do posterior Zé do Caixão.

Vampira e Bela Lugosi

Morticia Addams, mais uma vez, foi a inspiração, mas novos elementos foram acrescentados, das sobrancelhas arqueadas da Rainha Má de “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937) ao figurino que remetia às dominatrixes e pin-ups, e o nome foi uma sugestão do marido Dean Riesner (“Êxito Fugaz”).

A sensualidade, ou melhor, a sexualidade, vazava pela tela como o sangue de um pescoço mordido e Vampira era o oposto da imagem da mulher perfeita segundo o sonho americano dos anos 1950. A personagem ostentava luxúria, gritava exageradamente e utilizava seus dedos longos, sua cigarrilha e estacas como símbolos fálicos – uma mensagem clara de que a mulher pode transar por prazer e não apenas como geradora de filhos, em plena época do fenômeno do baby boom.

“Maila é importante para a história das mulheres na América”, declarou Greene. “Vampira foi, sem dúvida, uma rejeição total da percepção imposta do que as mulheres deveriam ser naquele momento”, comentou o diretor, sobre a passividade feminina, que seria questionada de forma coletiva poucos anos depois.

O programa “The Vampira Show” ficou no ar por apenas um ano e praticamente não deixou registros, já que era transmitido ao vivo e, na época, os conteúdos eram insanamente considerados descartáveis – apenas dois minutos de filmagem foram salvos em película.


Greene conseguiu restaurar alguns materiais produzidos e apresentados por Maila para realizar “Vampira and Me”, e também dedicou parte do documentário sobre a amizade da atriz com o astro James Dean (“Assim Caminha a Humanidade”). Quando o diretor perguntou qual era a afinidade entre os dois, a resposta foi simples: “Nós temos as mesmas neuroses”. Reza a lenda que Dean chegou a provocar uma pausa nas filmagens de “Juventude Transviada” (Rebel Without a Cause, 1955) para assistir ao programa da amiga.

Sua vida amorosa também foi agitada: além de Dean Riesner, ela também foi casada com Fabrizio Mioni (“A Força de Hércules”), mas não teve filhos. Além disso, teve rápidos relacionamentos com o ator Marlon Brando (“O Poderoso Chefão”) e com os cineastas Orson Welles (“Cidadão Kane”) e Edward D. Wood Jr. (“Glen ou Glenda?”).


Foi sob a direção de Ed Wood, por sinal, que ela estrelou o mitológico “Plano 9 do Espaço Sideral” (Plan 9 from Outer Space, 1959), trabalho derradeiro de Bela Lugosi (“Drácula”) e que ganhou a fama de ser o “pior filme de todos os tempos”. Maila sempre rejeitou o longa, que, ironicamente, ajudou a perpetuar sua imagem devido à aura mística da produção – na cinebiografia “Ed Wood” (1994), de Tim Burton, Maila aparece representada pela atriz Lisa Marie (“A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”).

Ao longo dos anos, Vampira e Maila Nurmi sumiram do mapa, e a obscuridade, nesse caso, foi letal para a vida de ambas. Uma reencarnação chegou a ser planejada em 1981, para um programa televisivo, porém o plano virou fumaça. Foi quando nasceu Elvira, personagem criada por Cassandra Peterson (“As Grandes Aventuras de Pee-Wee”), visivelmente inspirada em Vampira, que apresentou o programa “Movie Macabre” (1981 – 1984), além de estrelar um punhado de longas.

Vampira e Elvira

Maila Nurmi abriu um processo contra Cassandra, por apropriação de personagem, porém foi derrotada – foi o golpe de misericórdia.

Mas com tantas produções sobre vampiros dominando a televisão e os cinemas – como “Sombras da Noite”, que acaba de estrear no Brasil –, o humor macabro de Vampira deixou herdeiros. E, com a lembrança resgatada no documentário “Vampira and Me”, sua fama pode voltar a viver eternamente.

Fonte: Pipoca Moderna


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